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1.7.11

ENTRE MÁQUINAS E SAMURAIS
(Parte IV)



Considerações Finais

Um outro ponto que enfatiza um caráter tradicional na sociedade japonesa é a questão do trabalho profissional feminino. (...) as mulheres jovens que, teoricamente, poderiam ter acesso ao sistema de emprego vitalício, estando empregadas como assalariadas estáveis em grandes empresas, são, de fato, precocemente rejeitadas quando estão em idade de ter filhos e forçadas, social e materialmente, a dedicar-se exclusivamente à atividade doméstica. Uma vez terminada a criação dos filhos, para uma parte dentre elas, o retorno a uma atividade assalariada as exclui do sistema dominante de emprego e torna-as, de fato, uma das reservas privilegiadas da constituição de mão-de-obra precária, especialmente as assalariadas em regime parcial.

Podemos agora especular sobre o suicídio também. Diferente do ocidente, a sociedade japonesa tem certa tolerância ao suicídio. As religiões predominantes no Japão não consideram esta prática um pecado, alguns até veem o gesto de forma aceitável, e até valorizada, de se resolver uma situação. Se a pessoa estiver em alguma situação problemática, o suicídio é uma saída honrosa. O suicídio é uma tradição antiga no país, os samurais o utilizavam quando não tinham êxito em uma missão. Na 2ª Guerra Mundial, muitos militares tiraram suas próprias vidas para lavar a honra da nação após a derrota para os norte-americanos, e também não podemos nos esquecer dos kamikazes. Até mesmo idosos muitas vezes se matam para não “atrapalhar” a família.

Quanto aos jovens estudantes, um fator que ajuda a explicar a alta incidência de suicídio é a rigidez da sociedade, que atribui enorme importância a valores como honra e vergonha. A entrada nesse sistema de trabalho apresentado nos posts anteriores é altamente seletiva. Os trabalhadores são cuidadosamente selecionados, e as escolhas que os jovens vão fazer, ainda nas instituições educativas, determinarão suas vidas para sempre. A concorrência acirrada, a insegurança entre os jovens quanto ao futuro, e a pouca exposição de seus problemas à sociedade, junto a uma tradição histórica levam ao grande número de suicídios no país.

Bem, confesso que neste ensaio deixei muitas coisas vagas na medida em que a intenção era apenas mostrar minha opinião em um (ou vários) posts num blog. Mas acredito que tenha sido suficiente para mostrar minha visão do que acontece naquele país que, apesar de ser uma grande potência econômica, não se assemelha com as potências ocidentais e, portanto, não podemos ver os fatos que lá ocorrem ligados a uma visão puramente capitalística.

¹HIRATA, Helena; ZARIFAN, Philippe. Força e fragilidade do modelo japonês. Estudos Avançados vol. 5 n°12 São Paulo 1991

UENO, Kayoko. Suicide as Japan’s major export? A note on Japanese Suicide Culture. Revista Espaço Acadêmico n°44. 2005

2 comentários:

Δ disse...

É sempre importante observarmos fenômenos de outras sociedades ,como o suicídio, sabendo que possuem significados diferentes. Afinal, nem palavras nem acontecimentos guardam um único sentido.

Candy disse...

Dudu, adorei a série de posts, boa maneira de aprofundar um assunto sem ficar over... Muito bom, conteúdo interessante e informativo! Keep it up, man... Bjs.