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1.7.11

ENTRE MÁQUINAS E SAMURAIS
(Parte II)

filme: The Last Samurai (2003)


Bushidô: O Caminho dos Samurais

Bushidô (bushi: samurai, guerreiro; do: caminho) pode ser traduzido literalmente como caminho do guerreiro. Ou seja, é um conjunto de práticas e disciplinas que determinavam o modo de vida da classe guerreira do Japão feudal, os samurais, que, segundo dados históricos existiram desde o século XII até o XIX.

Lealdade, etiqueta, e educação eram princípios pregados pelo bushido. Um samurai honrado deveria ser leal a seus superiores. Mas o caminho do guerreiro não era apenas o da espada. O samurai tinha que se dedicar e apreciar tanto a arte da guerra quanto a arte do saber. Esta filosofia se estende ao ambiente familiar, à criação dos filhos, o cultivo de uma boa aparência, a prática da leitura ou escrita etc. A etiqueta deve ser seguida todos os dias da vida cotidiana, até mesmo na guerra. Os samurais também precisavam ter autocontrole, desapego e disciplina para manter a sua honra. Enfim, justiça e sinceridade, moral e honestidade, honra e glória, são virtudes que mediavam suas vidas, o caminho do guerreiro exige que a conduta de um homem seja correta em todos os sentidos.

A partir do século XVII, o bushido começa a perder sua importância como instrumento de guerra e a ganhar uma conotação mais educacional. Após a restauração Meiji, período que marca o fim do sistema feudal do Japão no século XIX, a classe guerreira deixou de existir e, assim, nada mais restava das antigas circunstâncias que sustentavam as tradicionais técnicas de guerra. As transformações políticas ocorridas na era Meiji possibilitaram a centralização da administração pública no país e a intervenção do Estado na economia. Por sua vez, isso permitiu a assimilação da tecnologia ocidental, preparando o Japão para o capitalismo.

Para preservar as tradições do bushidô foram necessárias mudanças para se adaptar aos novos tempos. O budô aparece então como ferramenta educacional e formadora de caráter. Através dessas práticas se cultivaria o corpo, a mente e o espírito para o auto-desenvolvimento. Com a extinção dos samurais, as técnicas estavam agora abertas para toda sociedade. Não se buscava mais a eficiência militar, mas caminhos educacionais para o aperfeiçoamento humano que estavam agora ao alcance de qualquer um. Assim, como já havia mencionado no post anterior, algumas práticas marciais adequaram seus métodos com a incorporação da filosofia do budô.
  
O caminho do guerreiro adquiriu um novo sentido quando descobrimos que o mais perigoso na verdade está em nós mesmos. Neste contexto, podemos considerar o budô como caminho que conduz ao nosso desenvolvimento interior. No entanto, o budô, não se pratica apenas num dojo, pois trata-se de uma arte de viver que se experimenta a cada instante, e deve ser seguido todos os dias da vida cotidiana, em cada ato. Daí a forte influência do bushidô no estilo de vida do povo japonês.

É difícil dizer como e até que ponto essa tradição está integrada, subjetivamente, nos indivíduos. Mas isso me parece ser um elemento essencial na forma como se constitui a sociedade nipônica até hoje, da maneira como eles se relacionam entre si e com os estrangeiros, nos momentos de guerra [com os kamikazes], nas situações de catástrofes, e até mesmo como se estabelece o sistema sócio-econômico japonês.

2 comentários:

Candy disse...

Vi muitos preceitos budistas na linha de conduta dos samurais! Nossa, que aula de história, Dr. Eduardo, very nice writing! Bjs!

Eduardo de Rezende disse...

Lara, não só do budismo, mas também do xintoísmo e do confucionismo. Só que não quis aprofundar neste aspecto, se não o post ia ficar maior ainda.