ENTRE MÁQUINAS E SAMURAIS
(Parte II)
filme: The Last Samurai (2003) |
Bushidô: O Caminho dos Samurais
Bushidô (bushi: samurai, guerreiro; do: caminho) pode ser traduzido literalmente como caminho do guerreiro. Ou seja, é um conjunto de práticas e disciplinas que determinavam o modo de vida da classe guerreira do Japão feudal, os samurais, que, segundo dados históricos existiram desde o século XII até o XIX.
Lealdade, etiqueta, e educação eram princípios pregados pelo bushido. Um samurai honrado deveria ser leal a seus superiores. Mas o caminho do guerreiro não era apenas o da espada. O samurai tinha que se dedicar e apreciar tanto a arte da guerra quanto a arte do saber. Esta filosofia se estende ao ambiente familiar, à criação dos filhos, o cultivo de uma boa aparência, a prática da leitura ou escrita etc. A etiqueta deve ser seguida todos os dias da vida cotidiana, até mesmo na guerra. Os samurais também precisavam ter autocontrole, desapego e disciplina para manter a sua honra. Enfim, justiça e sinceridade, moral e honestidade, honra e glória, são virtudes que mediavam suas vidas, o caminho do guerreiro exige que a conduta de um homem seja correta em todos os sentidos.
A partir do século XVII, o bushido começa a perder sua importância como instrumento de guerra e a ganhar uma conotação mais educacional. Após a restauração Meiji, período que marca o fim do sistema feudal do Japão no século XIX, a classe guerreira deixou de existir e, assim, nada mais restava das antigas circunstâncias que sustentavam as tradicionais técnicas de guerra. As transformações políticas ocorridas na era Meiji possibilitaram a centralização da administração pública no país e a intervenção do Estado na economia. Por sua vez, isso permitiu a assimilação da tecnologia ocidental, preparando o Japão para o capitalismo.
Para preservar as tradições do bushidô foram necessárias mudanças para se adaptar aos novos tempos. O budô aparece então como ferramenta educacional e formadora de caráter. Através dessas práticas se cultivaria o corpo, a mente e o espírito para o auto-desenvolvimento. Com a extinção dos samurais, as técnicas estavam agora abertas para toda sociedade. Não se buscava mais a eficiência militar, mas caminhos educacionais para o aperfeiçoamento humano que estavam agora ao alcance de qualquer um. Assim, como já havia mencionado no post anterior, algumas práticas marciais adequaram seus métodos com a incorporação da filosofia do budô.
O caminho do guerreiro adquiriu um novo sentido quando descobrimos que o mais perigoso na verdade está em nós mesmos. Neste contexto, podemos considerar o budô como caminho que conduz ao nosso desenvolvimento interior. No entanto, o budô, não se pratica apenas num dojo, pois trata-se de uma arte de viver que se experimenta a cada instante, e deve ser seguido todos os dias da vida cotidiana, em cada ato. Daí a forte influência do bushidô no estilo de vida do povo japonês.
É difícil dizer como e até que ponto essa tradição está integrada, subjetivamente, nos indivíduos. Mas isso me parece ser um elemento essencial na forma como se constitui a sociedade nipônica até hoje, da maneira como eles se relacionam entre si e com os estrangeiros, nos momentos de guerra [com os kamikazes], nas situações de catástrofes, e até mesmo como se estabelece o sistema sócio-econômico japonês.
2 comentários:
Vi muitos preceitos budistas na linha de conduta dos samurais! Nossa, que aula de história, Dr. Eduardo, very nice writing! Bjs!
Lara, não só do budismo, mas também do xintoísmo e do confucionismo. Só que não quis aprofundar neste aspecto, se não o post ia ficar maior ainda.
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